Escritos Incertos
Atribulações de dois Revolucionários
Dirigiram-se ao parque de estacionamento, da faculdade de engenharia, não trocavam uma palavra, o seu único objectivo era encontrar um carro de marca Datsun 1200, para poderem roubar.
Eram dois jovens, as suas idades rondavam os 30 anos, eram militantes revolucionários, estávamos em pleno consulado Caetanista. Olharam ao redor do parque de estacionamento e fixaram um Datsun 1200 para o qual se dirigiram.
As aulas na Faculdade decorriam normalmente, o parque de estacionamento estava cheio de carros de alunos e professores e ninguém suspeitava que nesse dia e nessa hora um deles iria ficar sem carro.
Paulo e Betinho descolaram-se calmamente em direcção ao Datsun que tinham fixado. Betinho foi direitinho á porta do lado do condutor e meteu a gazua que possuía e abriu o carro, Paulo estava na porta do outro lado olhando e vigiando as movimentações no parque, estava tudo calmo. Betinho abriu a porta e entrou para o carro concomitantemente abriu a porta para que Paulo entrasse também. Lá dentro Betinho puxou violentamente o canhão da ignição do carro e fez uma ligação directa. O carro pegou logo à primeira e arrancaram dali, devagar para não darem nas vistas e como se o carro fosse deles, saíram do parque de estacionamento da Faculdade de engenharia e já na rua aumentaram a velocidade, tinham de sair dali rapidamente de repente o carro começou a querer parar brruum… brruum… e eis que o carro pára mesmo, tinham andado uns 100 metros desde o local onde tinham roubado o carro. Os dois militantes revolucionários olharam um para o outro e sem trocarem uma palavra entre si abriram o capôt e tentaram ver se algo estava errado com o carro. Alguma vela poderia estar mal ligada ao motor ou outra coisa qualquer.
-- Caralho que tem a merda do carro? Exclamou Betinho
-- Esquisito. Disse Paulo.
-- Tem gasolina? Perguntou Paulo
-- Tem, pouca mas dá para chegar á bomba mais perto, não estou a perceber nada disto. Afirmou incrédulo Betinho.
Com as luvas calçadas por causa das impressões digitais e armado cada um com a sua Parabellum 9 mm carregada e pronta a disparar, os dois revolucionários, estavam apreensivos pois, com o carro parado naquela rua e ainda quase em frente á Faculdade de Engenharia, decididamente as coisas não estavam a correr bem para eles.
-- Foda-se vou tentar outra vez. Disse Betinho nervosamente.
Brummm… brrummmm… brrummmm o carro deu uns pequenos saltos… soluçava … mas não arrancou … com estas tentativas de pôr o carro a andar a pouca gasolina que tinha foi-se.
Paulo resolveu empurrar o carro mas, sozinho mal conseguia com que o carro andasse, Betinho saiu do carro e ajudou a empurrar com a porta aberta e mão no volante. Após uns penosos 20 minutos e cansados chegaram a uma bomba de gasolina, durante o trajecto moroso e cansativo, ninguém suspeitou dos dois revolucionários, que se esfalfavam quase deitando os bofes pela goela fora.
Oh! Pobres revolucionários, quanto custa lutar, contra o fascismo!
Mas que raio se passava com esse carro? Pensaram ambos.
Chegados a uma bomba de gasolina, saíram do carro, o gasolineiro aproximou-se para meter gasolina, Betinho pegou num pé de cabra que estava na mala do carro e rebentou, mesmo à frente do gasolineiro, com a portinha do depósito da gasolina e mandou meter dois contos.
Foi então que descobriram na mala do Datsun uma botija de gás, daquelas caseiras, com umas ligações, depressa tiraram a conclusão de que o dono era um engenhocas que tinha adaptado o seu carro para andar a gás.
Riram a bom rir estes dois nossos revolucionários. Olha o merlo! dizia um deles, afinal o homem é um engenhocas,hem! dizia o outro.
Bem descoberta a marosca do carro lá foram a rir os dois revolucionários para o tal assalto que iam fazer em Braga.
Depois do assalto e quando largaram o Datsun 1200, deixaram uma nota escrita para o dono do carro, que dizia o seguinte:
-- Com que então gás, hem!
E lá foram com a missão cumprida após o assalto ao Banco, missão um tanto ou quanto hilariante. Revolucionário sofre! RSRSRSRSRSRS